'Mercury - Act 2' é o Imagine Dragons em seu melhor momento. Dessa vez, pra valer.

Sexto álbum dos dragões reflete sobre morte, luto e juventude. E se desvencilia dos problemas de seu antecessor.

Imagine Dragons | Divulgação 

Em 2021, o meu descontentamento com 'Mercury - Act 1' tinha ficado marcado com evidência na minha crítica, mais parecida com um desabafo. Eu queria gostar do álbum. Queria me convencer de que após três anos de espera, de uma retirada proposital da banda dos holofotes, o intuito de construir um projeto que os deixariam verdadeiramente orgulhosos (como o próprio Dan Reynolds chegou a mencionar) teria resultado. O maior, mais interessante e mais focado álbum do Imagine Dragons. O seu "magnum opus".

Mas não foi o que aconteceu. Ao invés disso, 'Mercury - Act 1' segue soando distoante de um álbum para mim. Concluí que não adianta tentar entender como juntar músicas tão incompatíveis umas com as outras pareceu ter sido uma boa ideia para os três Daniels e um Ben. Só não faz sentido.

E quanto ao ato 2? Temos um álbum duplo e dois lados "irmãos" agora. Será que o Ato 2 fez jus ao ato 1? Um ano depois, será que agora o projeto faz sentido como um todo? (Re)lançado no dia 1 de julho, 'Mercury - Act 2' trouxe 18 faixas e algumas confirmações.

Mercury - Acts 1 & 2 | Interscope

A banda fez questão de reforçar a "irmandade" dos dois álbuns. Sendo assim, o Ato 2 não tem uma versão "standard" separada e foi lançado como uma nova versão de duas partes batizada de 'Mercury - Acts 1 & 2' com a exclusão de todas as plataformas a versão separada do primeiro ato. Com 32 faixas totais (e com 'Enemy' jogada aqui, por algum motivo), Mercury se torna o LP mais longo da banda.

E uma das primeiras conclusões que podemos ter é que o Ato 2 não ajudou nada o Ato 1 em termos de produção, como ponderei que poderia acontecer há um ano atrás. Mas pelo contrário do que isso possa parecer, isso passa longe de ser ruim. A segunda metade de Mercury é superior de diversas formas em comparação a sua irmã.

Rick Rubin retorna como produtor executivo e dessa vez se fez muito mais notável. Existe muito mais estabilidade e brilho em cada uma das músicas, principalmente falando das faixas mais rock do álbum, como 'Blur' e 'Sirens'. É um álbum triste e em contrapartida extremamente enérgico as vezes, dançante.

As guitarras são pulsantes, os gritos rasgados de Dan Reynolds são centrados, intensos e prazerosos de se ouvir, não mais incômodos e atrapalhados, como em alguns momentos do primeiro ato, quando acontecia. Em momentos mais pop-rock, há grande presença de refrões chiclete e até mesmo paredes de "da-da-da", que não se tornam nem um pouco irritantes, como poderiam ser (como em 'It's Ok' do Act 1). Há uma dualidade tão concisa entre a produção e construção mais simplória de 'Sharks' e 'Bones' (os dois singles irmãos do álbum, por serem bem similares) e os arranjos de 'Tied' e 'They Don't Know You Like I Do', além das inspirações mais eletrônicas que disparam novidade ('Symphony', 'Higher Ground'). O Imagine Dragons soa novo, em diversos momentos aqui. E se a escolha de manter diversas das músicas em um tempo médio de 2:30 parece "encurtar" a experiência ou prejudicar as músicas criativamente (como alguns artistas vem fazendo por conta da onda do TikTok), nesse álbum isso foi um acerto certeiro. Com cada música sendo uma pequena "cápsula" de uma grande narrativa em particular.

Blur | Divulgação 

E os temas de Mercury seguem os mesmos. Mas também são muito melhor explorados no segundo ato. Há mais foco e presença de um fator comum em todas as músicas. Aqui, elas contam uma narrativa, elas seguem a mesma melancolia e elas trazem grande emoção, mas isso só começa a partir da quarta faixa ('I Don't Like Myself') e assim segue. Temas sobre superação, mortalidade e luto ('Waves', 'I Wish'), depressão ('I'm Happy', 'Peace Of Mind'), auto-aceitação e juventude perdida ('Younger') e como lidar com tudo isso. Na verdade, como Dan Reynolds lidou com tudo isso. Desde 'Smoke + Mirrors', seu segundo álbum de estúdio, o Imagine Dragons não demonstra uma composição tão brilhante, honesta e pessoal quanto a do Ato 2. Há um expressionismo e um melodrama que parece ter finalmente encontrado a voz e mente do frontman, após tantas empreitadas óbvias de demonstrar seus sentimentos de forma clara sem parecer... Bem... Extremamente genérico e vago durante seus últimos projetos. As feridas foram tratadas, conversadas, choradas e então... curadas nesse álbum. 

Sharks (Official Music Video) | Divulgação 

Senti falta de sentir essa conexão com o Ato 1. Chorar, se arrepiar, se identificar.

'Mercury - Act 2' poderia ser apenas um álbum. Poderia ser apenas o único álbum desse projeto. Sobrevive com sua narrativa de forma individual e não soma em nada ao Ato 1. Ao invés disso, se sobressai. E faz ainda mais o primeiro álbum soar como uma coletânea de músicas descartadas desse aqui.

É bom estar igualmente empolgado e novamente surpreso por um álbum do Imagine Dragons. É muito bom mesmo.


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