'Mercury - Act 1' é o Imagine Dragons em seu melhor momento... e no seu mais confuso também

Após três anos, os dragões retornam em um projeto sincero, direto e caótico... Tudo ao mesmo tempo.

Imagine Dragons em Mercury - Act 1 | Interscope

Tomou algum tempo para que eu pudesse falar sobre esse álbum finalmente. O intuito era construir uma review em sua semana de lançamento, que aconteceu há um mês atrás (3 de setembro). Foi difícil tentar escrever algo diversas vezes sobre um projeto da minha banda favorita depois de algum tempo, e principalmente ao considerar o quão especial 'Mercury - Act 1' soava para Dan Reynolds e o resto do Imagine Dragons, mas não ressoava da mesma forma para mim após tantas ouvidas. Enfim, é estranho lidar com expectativas altas quando não se sabe quem foi o responsável por coloca-las em patamares tão altos. Você, ou a banda em si.

Mercury - Act 1 | Interscope

'Mercury - Act 1' se inicia de uma forma parecida. Em constante questionamento. O que faz sentido com a origem de seu nome, que se inspira na palavra "mercurial", de algo volátil e submetido a diversas mudanças, como o próprio álbum, a carreira e som da banda e até mesmo a vida pessoal de Dan Reynolds, como ele mesmo pontuou em algumas entrevistas e shows de divulgação para o projeto.

Nessa ideia, abre com 'My Life', onde Reynolds se questiona sobre tentar ser alguém que não é, apenas para agradar. Perto do final, a música se constrói em torno de um riff de guitarra encantador que parece ter saído do The Edge do U2. Os vocais de Reynolds aumentam. Tudo aumenta. É quase como se o álbum já estivesse finalizando no seu próprio começo. 

Muitas faixas desse álbum são assim, "mercuriais". Como 'Wrecked', 'Dull Knives', 'Cutthroat' e 'Giants', que perambulam entre a sua falsa tranquilidade, com vocais suaves e sussurros, e em toda sua voracidade, com gritos rasgados e as vezes até beirando uma certa mania. Possuindo os momentos mais interessantes na composição e produção do álbum como um todo (algumas delas tendo até mesmo produção conjunta com um dos ex-integrantes da banda, Andrew Tolman), explorando temáticas absurdamente pessoais como luto, depressão e auto sabotagem.

Com isso, a banda acerta e muito em muitas músicas aqui. Inclusive quando trás algo mais acústico e inspirado nas discografias de Prince, Bob Marley e The Beach Boys (olhando para 'Monday', 'One Day' e 'It's Ok', respectivamente), que são ícones declarados para Dan Reynolds. Mas é nessa tentativa de dualidade que o Imagine Dragons novamente escorrega, tanto na composição, quanto na própria coesão do álbum. Absolutamente nada se conversa em 'Mercury'. É uma bagunça de sentimentos, tentativas de vários gêneros, experimentações aqui e ali que não combinam com composições tão expositivas, facilmente decifráveis e as vezes difíceis de acreditar que são de todo sinceras. É quando Reynolds sente que precisa parar de se esconder em metáforas, que entrega uma coleção de clichês, mesmo tendo backstories muito legais como o seu quase divórcio com a esposa, Aja Volkman (sim 'Follow You', estou falando de você mesma).

Monday (Official Music Video) | Interscope

É louvável querer fazer um projeto com a intenção de ser mais vulnerável, mais intimista e particular. E isso é bem fácil de perceber ao decorrer do que ele tem a oferecer. Mas 'Mercury' se perde em qual visão agregar e o que transmitir. A decisão arriscada de fazer um álbum tão "volátil", é exatamente o que faz nenhuma das músicas conversarem como um todo. E em um álbum tão pessoal, é muito difícil não se desconectar ao ouvir músicas como 'No Time For Toxic People' (é difícil aceitar que esse é o nome da música, eu sei), que parece ter sido feita diretamente para um comercial de carro... E olha só, ela realmente foi!

'No Time For Toxic People' no comercial "Make This The Summer - Jeep"

Como alguém que acompanha esses caras desde que "era tudo mato", não consigo odiar nenhuma dessas músicas, até por legitimamente não achar que o problema de Mercury seja cada uma delas, e sim a sua própria esquizofrenia na experiência de ouvir seus 42 minutos inteiros de uma vez. Mas ainda é difícil perdoar simples escolhas erradas que poderiam ter tornado um álbum tão perdido, um verdadeiro achado. É difícil perdoar 'One Day' finalizar o álbum de uma forma tão acalentadora e, ao mesmo tempo, abolutamente rápida. Difícil perdoar a completa desconexão de 'Cutthroat' e 'Follow You' que vem seguidas uma depois da outra e não combinam em nada. Difícil perdoar 'Easy Come Easy Go' tratar de um tema tão bonito e ser tão tediosa e de um refrão bem irritante de se ouvir. E difícil perdoar a falta de presença da produção de Rick Rubin, que vinha sendo tão comentada e acabar por ser resumida apenas a produção executiva do álbum. 

Inclusive, a banda mencionou o processo de Rubin de tirá-los da zona de conforto várias vezes para desenvolver esse álbum. Eu gostaria de ter visto isso com mais clareza aqui. 

Trailer de 'Mercury - Act 1' | Divulgação

Por fim, sinto te decepcionar (e me decepcionar). O primeiro ato de 'Mercury' tem bons momentos, ótimas músicas e tentativas de novos sons. Mas é uma superfície bem rasa a ser explorada logo após que acaba, tentando se decidir se vai ser um álbum sincero e pessoal ou se vai lançar a banda para as charts com mais outros hits comerciais. E ficando perdido maré 

A boa notícia é que de todo primeiro ato, precisa ter o segundo. Talvez no seu futuro ato 2, as coisas façam mais sentido.


'Follow You' (Official Music Video) | Interscope

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