Vetromn | Foto: Divulgação |
“Não é sobre esquecer os fantasmas do passado, é sobre fazer as pazes com eles e superá-los” afirma Victor Gabriel enquanto assopra a fumaça de seu cigarro e reflete sobre o peso que essa frase carrega. Na ligação de quase uma hora com o IndieOClock, o mastermind por trás da persona Vetromn, encontra num papo descontraído sobre rock, lembranças e admirações, um momento para rir e se descontrair um pouco.
Para o cantor e produtor de 20 anos, o momento agora é de total empolgação e nervosismo. Isso porque chegou o tão esperado momento do lançamento de seu primeiro disco, Mr. Lonely. Produzido de forma independente, o trabalho marca uma nova fase na trajetória musical de Vetromn, que começou navegando pelos subgêneros da cyberwave e sadcore, com vários singles e EPs.
Com produção fundada em bases eletrônicas harmonizadas com ganchos e riffs de guitarra, tudo isso coroado pelavoz melancólica e sexy de Vetromn, e temos a essência de Mr. Lonely. Ao longo das 10 faixas, somos imersos em rock apaixonado, extenso e influenciado pela Darkwave, lembrando nomes como Pitty, Basement e Creed.
Mais confiante do que nunca, Vetromn nos convida a embarcar nessa viagem com ele.
IndieOClock: Você lançou há pouco tempo o EP Favorite Flavor, e ao longo dos anos foi lançando singles soltos. Foi esse caminho trilhado já, o que te encorajou a dar esse grande passo e lançar seu primeiro disco?
Sim, com certeza. Essa é a primeira vez que eu me sinto assim tão nervoso e empolgado ao mesmo tempo. O álbum levou um bom tempo pra ser feito. Eu fiz umas 30 faixas ao longo de três anos, mas só nos últimos seis meses eu revisitei algumas e comecei a pensar em juntar as que eu queria.
IndieOClock: Você mencionou nas redes sociais que ‘Mr. Lonely’ foi a primeira faixa a ficar pronta e ela foi a responsável por dar o “tom” do disco. Quando você teve aquele ‘click’ e percebeu que dela um álbum ia acontecer?
Quando eu fiz a faixa eu fiquei muito animado com a sonoridade que eu consegui chegar, porque era finalmente o que eu queria. A ideia do disco veio muito naturalmente, eu só sentei e pensei, “cara eu vou explorar mais essa vibe e acho que isso pode dar um álbum rock do caralho!”. E eu estava tão afundado no rock dos anos 2000, com a Pitty, Basement e Creed, que só ouvia eles enquanto fazia o disco. Então, pra mim não fazia sentido fazer um álbum pop e eletrônico, pra ficar sincero e autêntico eu teria que fazer ele nesse estilo.
IndieOClock: Falando de influências no rock, você sempre fez questão de deixar bem explícito seu amor pela Pitty, não é mesmo?
Nossa eu amo a Pitty, AMO. Ela é a inspiração total pra quando eu comecei a fazer o disco. Eu me lembro de pensar, “cara o som dela é tudo”, e “se eu conseguir chegar na unha do dedão do pé dela eu já vou me sentir muito realizado” (risos).
IndieOClock: No seu repertório muitas músicas são em inglês e até espanhol, mas, cantar majoritariamente em português é um diferencial no disco. O que causou essa mudança?
Por causa da Pitty eu quis fazer músicas em português mais do que em inglês, dar uma valorizada no nosso. Acho que as próximas coisas que eu vou fazer vão ser todas em português. Isso tinha muito haver com insegurança também. Eu me sentia muito inseguro pra cantar em português, mas, agora eu gosto e acho que fica super legal. Esse processo que eu passei de evoluir e continuar tentando até uma hora que eu achasse que ficou bom, me ajudou muito.
IndieOClock: A história por trás do Mr. Lonely seria possível seria possível há um ano?
Com certeza não! A lapidação que eu passei com os anos foi necessária e sem ela isso não teria sido possível. Eu tive que fazer barulhos bem ruins pra conseguir chegar num som que me agrada, então faz parte. Mas eu jamais conseguiria fazer ele um ano atrás, eu não teria essa visão tão centrada e tão focada no que eu quero.
IndieOClock: Com o Mr. Lonely você assume um personagem ou fala por si próprio?
Sempre por mim. Eu prefiro falar na 3ª pessoa na maioria das vezes. É igual escolher um nome artístico, a gente se protege dos nossos sentimentos quando a gente projeta ele em alter-egos.
Acho que sim. Se eles me dão força e ajudam de alguma forma a falar o que eu quero falar, então com certeza sim. Porque, às vezes, você entende melhor o que uma pessoa quer dizer entrando na mente dela, e o álbum é um pouco sobre isso, sobre um estado de espírito. As faixas se relacionam com toda essa temática. É uma viagem pelo universo pessoal do Mr. Lonely.
IndieOClock: Na primeira faixa “Nova Versão”, você canta “Só queimei meu antigo eu, essa é a nova versão”. Bem simbólico quando lembramos de sua trajetória musical, não?
Isso é total muito simbólico pra mim e é a faixa perfeita pra abrir o cd. Ela resume muito bem o que esse disco tem a dizer sabe, não tem problemas apagar e acabar com todo seu passado, fazer tudo de novo e ser outra pessoa. É tipo queimar meu antigo eu, tanto o Knoos quanto o antigo Vetromn. Agora que o Vetromn nasceu mesmo.
IndieOClock: Ainda em “Nova Versão” você diz “O que o tempo fez doeu, mas eu não vou pra baixo não”. Temos então, alguma história trágica por trás da concepção do Mr. Lonely?
Quando a gente é adolescente a gente faz muita merda, conhece muita gente ruim, você é grosseiro com muita gente, faz muitas coisas que se arrepende, tanto pessoalmente quanto musicalmente. Então, o tempo te dá muitas pancadas e mostra que você estava errado. Ele te obriga a pedir desculpas e também te machuca. Só que , o que importa é você aprender com tudo isso, ser humilde, sincero... uma boa pessoa sabe. E principalmente não se deixar ir pra baixo.
IndieOClock: O disco traz pela primeira vez parcerias com outros artistas na tracklist. Como foi se abrir para outros artistas, como o Garbo e Leo Mel, pro disco?
É se permitir ser vulnerável e deixar outra pessoa entrar na sua cabeça, pra mim foi super isso. Eu tenho amizade com os dois há anos, desde que era adolescente e via internet mesmo. Então, os primeiros feats só poderias ser com eles, até porque eu queria muito trazer eles pro meu som e ver como ia ser, porque imaginava uma coisa muito boa. E foi exatamente assim, tanto que, os feats são umas das minhas faixas favoritas no cd.
IndieOClock: Mr. Lonely é totalmente diferente do que você fez antes e traz pontos de discussão interessantes. Seria esse um álbum de um rebelde com causa?
Sim, talvez seja prepotência minha falar isso, mas eu acho que sim. É um álbum que muita gente vai se identificar, principalmente agora que está tudo mundo se sentindo um pouco solitário, querendo uma válvula de escape e procurando se reinventar. É sobre isso, quem se identificar com isso vai curtir.
IndieOClock: Então a mensagem por trás do disco, é essa? De renovação?
Exatamente, é não ter medo de se renovar e ser a pessoa que você quer ser. É uma revolução que acontece de forma silenciosa em nós mesmos.
Mr. Lonely já está disponível em todas nas plataformas digitais.
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