Elekfantz | Foto: Divulgação
Daniel
Kuhnen e Leo Piovezani se conheceram no início da
adolescência, em meados dos anos 90. Na época, eles montaram uma
banda de blues, e a amizade foi fortalecida pela música.
Apesar de seguirem caminhos diferentes depois que a banda terminou,
Daniel e Leo se reencontraram no futuro, meio que por acaso, e
acabaram formando um novo projeto musical: a dupla eletrônica
Elekfantz. Ou seja, o que a música une, nada parece conseguir
separar.
Com
composições totalmente autorais e produção de Gui Boratto,
considerado o terceiro membro do Elekfantz, o duo vem
ganhando grande notoriedade dentro do cenário eletrônico mundial, e
já tocou em mais de 30 países em seus 8 anos de existência.
O
Indieoclock bateu um papo com Daniel e Leo, e eles
compartilharam o nome de seu novo single, spoilers sobre
o futuro da banda, e uma história inusitada sobre a primeira vez que
eles viram um fã com uma tatuagem que homenageava a dupla. Confira:
Vocês
tocaram juntos pela primeira vez numa banda de blues
quando eram adolescentes. Vocês acreditam que o blues
continua influenciando o som de vocês até hoje?
Leo:
É uma ótima pergunta. Eu acredito que sim, porque eu escutei muito
rock e blues. Vou dar um exemplo bem fácil de entender: Billie
Eilish, que tá bombando, aquelas músicas dela são totalmente
blues. A ideia do blues de pentatônicas e escalas influencia o pop
em vários aspectos. Não só no melódico, mas em guitarras e coisas
assim. O Elekfants tem essa influência porque eu e o Dani, a
gente sempre escutou muito rock e blues também. Mesmo o Dani sendo
DJ, e tocando música eletrônica há mais tempo que eu, ele escutou
e escuta muito rock até hoje.
Depois
dessa fase na adolescência, vocês seguiram carreiras distintas.
Como vocês se reencontraram e o que fez formarem a dupla Elekfantz?
Daniel:
- Leo respondendo agora.
Leo:
Leo? [risos]
Daniel:
- É… Daniel respondendo agora.
[risada
coletiva]
Daniel:
Fazia muito tempo que a gente não se encontrava. Depois que a
gente tocou junto e se conheceu na escola de música, o Leo
continuou na música e eu me afastei por alguns anos. Quando eu
voltei pra música, voltei como DJ. Toquei como DJ por bastante tempo
e o Léo foi assistir um show meu. [Ele] tava começando a
compôr umas coisas diferentes, tava querendo entrar e
entender um pouco mais da música eletrônica. Eu tava abrindo o show
do Tiësto, aqui em Florianópolis, e ele
tava nesse show, me reconheceu no palco. Na semana
seguinte ele me procurou, mas fazia muito tempo que eu não tinha
notícias dele. A gente se encontrou, passamos uma tarde juntos
falando sobre música, ouvindo música, e alí a gente decidiu
começar algo juntos. Não sabíamos exatamente o que seria, e se
tornou o Elekfantz.
Isso
era inclusive algo que eu ia perguntar, se vocês chegaram a pensar
em formar uma banda de novo ou já sabiam que seriam uma dupla desde
o início?
Daniel:
O Elekfantz se apresenta como dupla, mas a gente
encara mais como uma banda do que como uma dupla de DJs. Temos muitos
elementos de performance, instrumentos ao vivo, o Leo canta ao vivo,
tem bateria e sintetizador ao vivo… Apesar de não ter uma banda
completa, a gente é mais uma banda do que uma dupla de DJs. E pro
show do disco novo, a gente pensa sim em ter uma formação maior,
com outros músicos.
Quando
vocês começaram a carreira com o Elekfantz, foi
exatamente como vocês esperavam?
Leo:
Na verdade, foi bem mais rápido do que a gente
pensou, porque a gente começou lançando músicas novas. Não foi
como um DJ começa: tocando em festinhas, tocando músicas dos
outros, e começando a fazer o nome como DJ. A gente
começou totalmente autoral, fazendo shows na Europa, abrindo shows
do Gui Boratto, e fazendo eventos junto com ele.
Então pra gente foi tudo muito rápido, em 5 anos a gente conseguiu
tocar em 30 países só fazendo a nossa música, a música que a
gente acredita e gosta.
E
essa questão de cantar ao vivo, é algo incomum na música
eletrônica. Foi algo que vocês já planejavam desde o início ou
surgiu depois ao longo das apresentações?
Daniel:
Não exatamente desde o início, porque o Leo é
bateirista de formação, ele era a bateria do Elekfantz.
Então quando a gente começou a trabalhar juntos, acho que nem o Leo
sabia que ele sabia cantar. Tanto que a primeira música que o
Elekfantz lançou, que se chama “Wish”, é a única
música que o Leo não canta e a gente usou samples,
do Muddy Waters, inclusive, voltando no blues. [risos]
Só que durante a produção e composição do primeiro
disco, o Leo tinha gravado várias músicas que a gente tava
compondo. Ele gravou a voz dele como guia enquanto a gente não
encontrava um cantor, e o Gui Boratto, nosso produtor do primeiro
disco e segundo agora, ouvindo aquelas guias, decidiu: “Não Leo,
você tem que cantar, tá muito legal!”. E daí até cantar ao vivo
foi um processo, mas desde o primeiro show o Leo canta ao vivo em
todos os nossos shows.
E
Leo, você ficou nervoso na primeira vez que cantou ao vivo?
Leo:
Não! Porque eu já cantava de backing [vocal]
em algumas bandas, só que sempre na batera né? Não era uma coisa
que eu tava lá na frente… Mas eu já vinha de palco desde criança,
sou músico há 25 anos, então não. Ainda mais tocando e cantando
uma música que eu compus, era mais fácil ainda, né? Se fosse pra
fazer um cover de Aerosmith aí eu estaria preocupado [risos].
[Risos]
E falando sobre música autoral, sobre a
música “Wish”, como
vocês se sentiram quando ela
fez sucesso? Vocês esperavam uma recepção tão positiva?
Leo:
Ótima pergunta! A gente ficou muito feliz quando “Wish”
aconteceu, porque logo que a gente terminou, estávamos no estúdio
junto com o Gui Boratto. Ele mandou pra gravadora dele na Alemanha, a
Kompakt, e eles adoraram a música e decidiram lançar. Só que eles
lançaram ela somente em vinil. E a gente decidiu juntos, naquele
momento, que iríamos manter a identidade do Elekfantz em
segredo. A gente não ia abrir que o Elekfantz era do Brasil,
nem que o Elekfantz era o Daniel e o Leo, e nem que o Gui
Boratto era o produtor, enfim. Simplesmente a música foi lançada e
a gente manteve isso em segredo. E eu lembro como se fosse hoje, o
Gui comentou com a gente “olha, a música é ótima vamos lançar,
vamos deixar a música falar, vamos ver até onde ela vai sozinha sem
marketing, sem divulgação”. E até preconceito, porque a gente,
querendo ou não, na Europa, existe um certo preconceito com a música
eletrônica feita no Brasil.
Foi
a música pela música, né? Não tinham nomes…
Exatamente,
música pela música! E aí alguns DJs grandes começaram a tocar [a
música], o próprio Gui começou a tocar, e aí começou o
mistério. Perguntavam pro Gui e pros outros DJs que música era
aquela. Alguém colocou a música no Youtube e replicaram ela em dois
blogs um francês e um americano. Quando a gente viu tinham lá
centenas de milhares de comentários lá, perguntando onde a gente
lançou o primeiro disco e o primeiro single oficial. Então foi uma
surpresa muito positiva, a gente não teve nenhum trabalho com
marketing, foi a música pela música como você falou.
Depois
do sucesso de "Wish", vocês se sentiram pressionados na
hora de fazer um novo single? Para que ele fosse tão bem recebido
quanto o antecessor?
Leo:
A
gente não sentiu muito isso porque logo depois que a música foi
lançada a gente já tava em estúdio trabalhando no primeiro álbum.
Dani:
Aconteceu uma coisa melhor ainda, o
solo
do Solomun
na
primeira música que a gente tava lançando, então aí o nervosismo
passou na hora
[risos].
Porque
aí era o Solomun
então
a
gente ficou bem, ele impulsionou a música. “Diggin’
On You”
foi
mais
longe que a
“Wish”,
foi
o
primeiro single do nosso primeiro disco.
E
como
geralmente funciona o processo criativo de vocês? Para uma música
nova?
Leo:
Olha, eu tenho um estúdio em casa, o Dani também tem, mas eu gosto
de compôr músicas… Tem coisas que nem são
pro
Elekfantz
e acabam
virando, depois
com o Dan, a gente trabalha um pouco, toca ao vivo pra ver como é
que funciona… Basicamente começa comigo, depois a gente leva pro
Dani e depois que a gente tocou e tá legal, a gente vai pro estúdio
com o Gui, pra ele fazer a produção final da música. Mas o
Elekfantz
sempre foi autoral, a gente gosta de compôr e tocar nossas músicas
ao vivo. E continuando a tua pergunta: ao vivo é sempre diferente da
versão de disco, o
que
é uma característica do Elekfantz.
As
versões que você vai escutar num
show
do Elekfantz,
em
qualquer música,
são
diferentes
das
que você escuta quando dá play nas plataformas digitais.
E
qual o motivo dessa diferença nas versões ao vivo e de disco? É
pra criar uma experiência mais única nos shows?
Daniel:
É sim, já tocamos em bandas, e os artistas que são nossas
influências, todos eles, tinham as suas apresentações ao vivo,
diferentes
das
gravações. Então
desde o início a gente queria isso, queria poder entregar pro fã
que vai nos assistir algo maior e diferente do que ele conhece. Uma
versão diferente. Eu sempre gostei disso, o Leo também, e a gente
busca levar isso pro nosso show.
Recentemente
vocês lançaram o EP “ELEMENTS: Part I”. Gostaríamos de saber
se tá vindo uma “Part II” por aí, sobre o álbum que vocês
comentaram que também estão para lançar. Quais são os
spoilers que
vocês podem soltar para a gente sobre músicas novas no futuro do
Elekfantz?
Leo:
A
Parte
II vai
completar o nosso segundo disco de estúdio, que sai no começo do
ano que vem. Até lá ainda tem mais um single, que eu posso até te
adiantar, se chama “She’s
so Funky”.
Inclusive
a gente vai gravar o videoclipe dele
hoje, a produção e pós-produção já tá encaminhada, a gente tá
indo daqui a pouco encontrar o pessoal pra fazer essa gravação.
Essa faixa sai em dezembro, é o 1º single da segunda parte, que vem
com mais algumas músicas inéditas pra fechar nosso segundo disco. A
gente resolveu dividir ele em duas partes, depois ainda vai ter um
álbum de remixes, com remixes de DJs de vários estilos, alguns já
foram lançados e vários outros ainda inéditos, tudo pro começo do
ano que vem.
E
sobre esse clipe que vocês vão gravar daqui a pouquinho, tem alguma
coisa que vocês podem contar pra gente? [Risos]
[Risos]
É o primeiro clipe que a gente vai gravar na nossa cidade natal,
Florianópolis. Nunca
gravamos aqui. Já
gravamos em Barcelona, já gravamos em Amsterdã, já
gravamos aqui perto em Blumenau,
mas não gravamos aqui.
Então
tava na hora, né? [risos]
Sim
[risos]
Bem,
a música eletrônica em geral tem
ganhado cada vez mais espaço nas playlists e no gosto dos
brasileiros. Como vocês veem
a cena eletrônica brasileira atual? Ela tá bem representada?
Leo:
Eu acho que tá sim, com muita gente nova surgindo. Acho
que tá só faltando um pouquinho de diferenciação, todo
mundo muito parecido, mas tá bem representado, tem muita coisa boa
sendo feita. Eu acho que nesses últimos 5 anos desde que a gente
começou, veio muita gente boa. E eu acho que os próximos 5 anos
serão melhores ainda, [porque]
vai
acontecer um amadurecimento natural dessa molecada que tá vindo, e
aí eu acho que vai ter mais música boa assim no mercado, tocando na
rádio, mais popular, porque o nicho eletrônico ainda é muito
pequeno.
Daniel:
Como o Leo falou, a música eletrônica ainda é pequena se você
comparar com os gêneros mais populares do Brasil. Mas, pelo menos,
ela saiu só dali do eixo Rio-São Paulo e Sul do Brasil, que ela era
muito concentrada, ela tá se espalhando pelo Brasil inteiro. Não só
o público, mas também
produtores
e artistas estão surgindo,
no
Brasil inteiro, e
os resultados têm
sido
bem
interessantes. Acho que com o amadurecimento dessa turma nova que tá
chegando de todos os lugares do Brasil, a gente tá caminhando pra um
amadurecimento da cena, da música eletrônica brasileira, e também
pruma identidade da música eletrônica brasileira. Nós vamos chegar
lá!
E
falando sobre esses novos artistas que estão surgindo na música
eletrônica brasileira, o Vintage
Culture remixou algumas músicas de vocês como "Work It Out"
e "Blush". Como rolou esses remixes? Vocês chegaram
a se conhecer?
Daniel:
O
Lukas
remixou desde a época de “Wish”.
Ele fez remixes não oficiais, ele gostava muito de “Wish”,
“Diggin’
On
You”
e depois “She
Knows”,
ele remixou essas três músicas acho que pro show dele, pro set
dele, porque
ele gostava do Elekfantz.
Ele
até numa conversa disse “eu nem sabia que vocês eram brasileiros,
vim saber bem depois”, e ele remixava e tocava. E aí quando a
gente gravou “Blush”,
o Leo mandou a música pra ele, ele adorou e foi o primeiro remix
oficial que ele assinou pro Elekfantz.
Leo:
“Work
It Out”
ele me ligou, eu já tinha mostrado a música, o disco pra ele
escutar, pra ele conhecer, daí ele não deu bola. Aí ele escutou de
novo, resolveu remixar, e fez uma versão que a gente adora.
Daniel:
É. “Work It Out” não tava nos planos pra sair um remix oficial.
Ele fez [o
remix]
muito rápido, de um dia pro outro ele mandou,
a
gente adorou e
ela saiu oficialmente.
E
tem
algum artista que vocês gostariam de trabalhar? Do
Brasil ou de fora?
Leo:
Olha,
no Brasil a gente tem remixes… Como a gente tá no meio DJ, é
uma relação diferente, porque a gente compõe as músicas e outros
DJs fazem os remixes, normalmente é assim que acontece. Caras como o
Gabe,
o próprio Pedrinho do Illusionize,
que fez uma versão bem legal de “When
We Were Young”
que tocou no Rock in Rio e tudo. Tem
também
os
caras que fizeram remixes pra gente em “Work It Out”, por exemplo
o Bruno
Be,
e
o Seakre,...
Pra
gente sempre é bom ter essas releituras da
nossa música por pessoas que a gente é amigo, que a gente admira.
Talvez daqui a pouco sei lá, o Alok faça remix, porque eu lembro
que o Alok também era um que gostava muito do Elekfantz
quando
a gente começou, mas nunca rolou de fazer nada com ele.
Vocês
já tocaram em várias partes do mundo! De todos os países que já
visitaram até agora, qual foi o seu preferido? Por quê?
Daniel:
Eu não sei se o Leo tem a mesma opinião, mas Paris é muito
especial pra mim. Os primeiros shows do Elekfantz
foram na França, em Bordeaux e Paris, e lá que a gente gravou
também ao vivo o clipe da “She
Knows”,
um clipe super caseiro, gravado com uma câmera na mão durante o
show, e a música estourou depois disso. A
gente sempre foi muito bem recebido lá, no nosso primeiro show tinha
um fã com o vinil da “Wish”
pra gente autografar. Sempre fomos muito bem recebidos, um público
bem jovem, que sempre abraçou
a música do Elekfantz.
A gente tocou muitas vezes lá e eu gosto muito de lá.
Para
terminar, gostaria de convidá-los a deixar uma mensagem para os fãs
de vocês, e
para
quem está conhecendo o trabalho de vocês agora…
A
gente é muito grato a todo mundo, a todos os fãs que mantém a
gente abastecido de boas energias. A gente vai continuar entregando a
música que a gente acredita, e vocês podem ficar tranquilos, podem
fazer tatuagem, que a gente vai continuar até o fim da nossa vida
[risos].
É isso, a gente não vai deixar vocês na mão nunca!
[Risos]
As tatuagens estão garantidas, né?
É!
Tem um monte de tatuagens pelo Brasil, viu?
[risos]
É
mesmo?
Leo:
Tem
umas 8 já, né?
Daniel:
É,
já
tem
umas 8 pessoas tatuadas.
Com
o símbolo de vocês ou letra de música?
Ambos:
Com
o símbolo, com letra… É
muito legal toda vez que a gente encontra alguém com uma tatuagem
nos shows.
Qual
foi a reação de vocês quando viram uma pessoa com uma tatuagem
dessas pela primeira vez?
Daniel:
E não foi nem num show! Eu tava no shopping, provando
uma
roupa numa
loja, e aí daqui a pouco começou um alvoroço, eu ouvi um barulho
“Ai
Dani, olha isso aqui”, eu abri o provador e um dos vendedores tinha
a tatuagem do nosso logo com a data embaixo, e a data era a dia
que ele tinha ido no nosso show pela primeira vez. Foi surreal!
[risos]
E
a partir daí surgiram mais e vão continuar surgindo…
Daniel:
Pois
é, não tem a conta. Alguns mostraram foto, outros mostraram em
algum show.
Fica
aqui então uma sugestão, ó: Depois vocês podem reunir todo mundo
que fez tatuagem e colocar em um clipe [risos]
Ambos:
[Risos]
Verdade,
hein? Boa ideia!
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Pauta e entrevista: Andressa Gonçalves.
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