Denitia | Foto: Kylah Benes-Trapp/Divulgação
Denitia, um nome que poderia facilmente ser sinônimo de inspiração. Artista negra e queer, Denitia deu voz ao seu sonho e seguiu carreira em um ambiente ainda desigual e não totalmente inclusivo: a indústria musical. Apesar dos desafios enfrentados, seu talento falou mais alto e, agora, a cantora, compositora, e guitarrista norte-americana lança seu primeiro álbum de estúdio, "Touch of the Sky"; um disco incrível, recheado de muita música boa e sinceridade.
Muito conhecida por misturar diversos gêneros musicais em suas faixas, criando resultados surpreendentes, a artista lança seu álbum de estreia com 8 faixas inéditas, que a consolidam em sua carreira solo. Anteriormente, a cantora fazia parte da dupla Denitia and Sene, projeto no qual lançou 2 álbuns e que está em hiato indefinido desde 2017.
"Touch of the Sky" é predominado por um cativante indie pop e rock alternativo, mesclados a letras que falam muito sobre o amor em suas várias formas e ocasiões. O Indieoclock teve a oportunidade de conversar com Denitia sobre o lançamento deste disco, sua carreira, e a importância de sonhar. Confira:
Quando
você começou a carreira solo, quais foram as principais diferenças
que você sentiu entre ser uma artista solo e fazer parte de uma
dupla?
Eu
já tinha sido artista solo antes de estar em uma banda, então foi
interessante fazer essa evolução. Foi revigorante, a música
toma formas diferentes quando eu estou produzindo e compondo tudo sozinha. Todas as escolhas criativas são minhas, o que é
uma tarefa importante mas que eu gosto de assumir.
Ouvindo
suas músicas, é possível notar vários gêneros musicais
diferentes misturados em uma mesma faixa. Quando você está
criando uma música nova, como você sabe quais são os melhores
gêneros para usar? Experimentando? Ou geralmente você já tem
algumas ideias?
Muitas
pessoas me perguntam isso. Eu não penso nos gêneros quando
estou criando – eu só faço o que me parece bom. Eu
sempre escutei uma variedade absurda de tipos de música, então, quando estou criando o meu próprio trabalho, tudo isso vem pela minha perspectiva, de quem eu sou. Em “Touch of the Sky”, eu simplesmente
sabia que queria baterias bem marcadas e que a atmosfera fosse rica.
Quais
elementos você ainda não teve a oportunidade mas gostaria de usar
em uma música, no futuro?
Eu
adoraria fazer algumas músicas extremamente focadas na voz, quase como acapella. Eu me interesso muito por harmonia
vocal, então eu gostaria de trabalhar em um projeto que dependa bastante dos vocais e harmonias.
Como
foi o processo criativo do seu álbum de estreia
"Touch of The Sky"?
Eu
me mudei para o litoral da cidade de
New York, para
fazer esse CD, e acabei criando várias músicas lá. Quando eu
comecei a fazer esse álbum, eu estava acordando super cedo todas as
manhãs, visitando o oceano, e começando minha sessão [de gravação] às 6 da
manhã. Eu ouvia um pouco de
Cocteau Twins e
então trabalhava nas músicas por horas. Em determinado
momento, eu descobri uma paleta sônica que
eu queria trabalhar com, e eu fiquei trabalhando nesse banco de sons. Eu criava faixas a
partir de bateria e baixo, ou apenas guitarra, e trabalhava melodias
por cima; então, as palavras surgiam, eu modelava a música
e finalizava ela. Tudo aconteceu bem rápido e eu fiz várias músicas,
das quais eu escolhi essas 8. Eu só precisava sair da zona de
conforto, aparecer [nas sessões de gravação] todos os dias
e deixar a música fluir.
Como
você está se sentindo sobre esse lançamento?
Eu
estou muito empolgada! Sinto que existe essa obra de arte no mundo, que representa como eu me sinto por dentro, meus
gostos, meus pensamentos, meu ser musical. Sinto-me revigorada e balanceada.
Como
foi a experiência de trabalhar com o cinegrafista brasileiro Hugo
Faraco, no
minidocumentário sobre o álbum
"Touch of the Sky"?
Hugo
é uma pessoa incrível e um artista absolutamente visionário. O
curta-metragem surgiu de forma tão orgânica – nós apenas
conversamos. Ele me perguntou sobre o meu processo [criativo] e como eu compunha o álbum, e nós decidimos fazer esse
filme sobre amor, identidade, consciência e o oceano – todos os
temas presentes no álbum. Quando ele me mandou o
material pela primeira vez, eu fiquei impressionada, deslumbrada
durante cada passo do processo, porque todas as ideias dele e execução
eram lindas, e de outro mundo. Eu amei trabalhar com ele, essa obra é
um acompanhamento vital para o álbum, e completa todo o seu
conceito.
Em
um material escrito que nós recebemos sobre o seu novo álbum, tinha uma
declaração que você fez e que
chamou a minha atenção: “Porque o mundo às vezes pode ser assustador
para uma pessoa negra e queer. Os sonhos realmente se tornam uma
necessidade para a sobrevivência”
- Você continua se
sentindo dessa forma? Ou você acredita que as coisas estão
melhorando, mesmo que lentamente, para a comunidade LGBT?
Sonhos
são absolutamente essenciais quando você se sente invisível ou ignorado pela sua cultura e sociedade. Sonhos são o
combustível e o alívio para pessoas cuja realidade é cruel. O que nós imaginamos e visualizamos para nós mesmos é
como nós criamos a mudança e tornamos o mundo um lugar
melhor. Eu sempre acreditarei nisso. É claro, a sociedade está
fazendo progresso, mas há um enorme espaço para
desenvolvimento, e nós mesmos temos que continuar sonhando que teremos vidas melhores.
O
que você acredita que o mundo precisa para mudar? Para as pessoas se
respeitarem e se aceitarem mais?
É necessário que nós vejamos uns aos outros por
completo, em todas as nossas dimensões. Nós seríamos muito beneficiados se houvesse mais mente aberta e compreensão. É importante o trabalho do indivíduo, bem como o das comunidades, para haver progresso. Nós precisamos de
mais compaixão e fervor – lidar com compaixão uns com os outros,
e recursar fervorosamente se acomodar por algo que seja menos que
justo.
A
maioria das músicas do
"Touch of the Sky" falam
sobre amor. Amor vulnerável, amor verdadeiro, amor em um
relacionamento bom, amor em um relacionamento difícil… Amor por
várias lentes: em momentos de alegria ou não. Esse foi um tema que
você quis retratar desde o início no álbum? Ou simplesmente aconteceu?
Eu
apenas escrevi sobre minha vida e experiências. Eu senti que era
importante expressar minhas experiências diretas, e muito do que eu
estava pensando sobre era o amor. Eu estava em um novo
relacionamento incrível e minha namorada tinha me dado uma cópia do
[livro] All About Love, do Bell Hooks, para ler, e ele expandiu minhas
ideias limitadas sobre o papel que o amor desempenhou na
minha vida.
Agora
sobre shows ao vivo, como foi a sua primeira experiência se
apresentando em público?
As
primeiras vezes que eu toquei em público foram muito assustadoras.
Eu tinha muito medo de subir no palco.
Mas você conseguiu se acostumar com isso? Como você lidou com esse medo?
Depois
de todos esses anos tocando e estando no palco, eu com certeza me
sinto mais confortável em estar lá em cima; o palco parece um lar. Levou um tempo para que eu superasse o
meu medo de me apresentar no palco – o único remédio
foi continuar subindo lá.
Qual
foi o lugar que você mais gostou de tocar?
Eu
toquei em tantos lugares adoráveis ao redor do mundo, é difícil
dizer – tantas comunidades internacionais me abraçaram e foram
públicos amáveis. Mas eu também amo tocar na minha cidade natal,
em Nova York, há muito amor em casa e eu sou sortuda de ter aqui uma
comunidade incrível de artistas, fãs e apoiadores.
Em quais
países você gostaria de se apresentar um dia?
No Brasil!
Muito
obrigada por conversar com a gente, Denitia! Eu te desejo muito
sucesso com o “Touch of the Sky” e espero que você toque para a
gente, aqui no Brasil, em breve! Agora, por favor, deixe uma mensagem
para seus fãs brasileiros, pessoas que estão conhecendo sua música
por essa entrevista… Fale o que você quiser, o espaço é seu!
[risos]
Andressa
– muito obrigada por ouvir o novo álbum, gostar dele, e tirar um
tempo para fazer essa entrevista tão atenciosa. Estou muito
empolgada para trabalhar com mais artistas brasileiros e eu mal posso
esperar para trazer a experiência ao vivo ao Brasil!
Para mais informações sobre Denitia, acesse o site oficial da cantora.
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Pauta e entrevista: Andressa Gonçalves.
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