Entrevista: The Lumineers fala sobre seu novo álbum, relação com o Brasil, e conta qual o melhor conselho que a banda já recebeu!

The Lumineers | Photo: Danny Clinch

Qual a receita para o sucesso? Talvez, a pergunta mais correta seja: Qual a receita para um sucesso duradouro?

Pelo menos no mundo do entretenimento, a resposta pode parecer simples: estar sempre se reinventando. Mas, a realidade, é que a resposta não é tão simples assim. Além da readaptação constante, uma série de outros fatores importantes precisam entrar na conta, para que o público continue gostando do artista em questão: a criatividade, uma boa comunicação com o público e, principalmente, a originalidade.

E é exatamente por cumprir todos esses itens com maestria, que a banda norte-americana The Lumineers, mesmo com tantos anos de existência, continua firme e forte na estrada da relevância, sempre caminhando rumo a um público ainda maior e ainda mais fiel.

Recentemente, conversamos com Jeremiah Fraites, o responsável pela bateria e percurssão da banda, que contou com exclusividade ao Indieoclock mais detalhes sobre o novo álbum de estúdio da banda, “III”, lançado hoje (13/09). Além disso, o artista ainda compartilhou uma piada interna do grupo, falou sobre o amor que eles têm pelo Brasil e o contou o melhor conselho que eles já receberam.
Para quem não sabe, o The Lumineers adotou um método diferente para o lançamento de seu novo álbum: ele foi dividido em três partes, chamadas de capítulos, cada um deles composto por 3 músicas diferentes. Cada capítulo foca em um personagem diferente, todos membros da fictícia família “Spark”. Ao longo dos meses, lançamos diversas matérias falando a respeito de cada single e videoclipe lançado, e você pode conferí-los aqui.

Nesta nova obra, o grupo insere o ouvinte na história dos “Spark”, falando sobre vários temas importantes e atuais, como a dependência química e alcoólica.
The Lumineers é uma banda que dispensa apresentações, eles ficaram conhecidos mundialmente em 2014 com o hitHey Ho”, que já acumula mais de 208 milhões visualizações só no YouTube.


Sobre o trabalho mais recente do grupo, “III”, o Indieoclock ouviu o disco antecipadamente, e em breve estará disponível no site uma resenha completa sobre ele.

Enquanto isso, confira a nossa entrevista:

Bom, primeiramente, gostaríamos de saber se teve algum conselho que vocês receberam no início da carreira e que marcou vocês. E, se sim, qual foi?
Então, eu e o Wesley trabalhamos na banda por aproximadamente 13 anos. E, aproximadamente 13 anos atrás, nós tínhamos muitas músicas que escrevemos e lançamos, e que formaram o nosso primeiro álbum. Nós o enviamos para uma gravadora que eu não lembro o nome, era uma de Nova Iorque. Tínhamos esse álbum pronto na época, com nossas melhores músicas; enviamos para a gravadora e pensamos “Ai, meu Deus, seremos famosos, as pessoas vão conhecer nossas músicas!”. E aí o presidente da gravadora nos disse: “Boas músicas, elas tem potencial, mas continuem caminhando, vocês não chegaram lá ainda. Continuem escrevendo músicas melhores, talvez um dia...”, algo assim.
E eu acho que foi um dos melhores conselhos que já recebemos porque [nós pensamos] que ficaríamos conhecidos e faríamos sucesso com músicas que eram apenas ok, talvez até medíocres.
Também acho que foi o melhor conselho porque, nos anos seguintes, a gente só compôs novas músicas, e tentamos fazer músicas melhores, com mais qualidade. Tentamos fazer gravações melhores, tentamos adicionar um novo instrumento, tudo no nosso processo [de criação]... nós só tentávamos melhorar e melhorar. E acho que isso foi ótimo porque você pode fazer músicas boas, e você pode fazer músicas ótimas, e eu acho que músicas ótimas são sempre a meta. Acho que quando a banda tem músicas boas isso pode, potencialmente, ser um problema, porque as pessoas pensam “ah, vocês tem músicas legais, são ok, mas podem ser muito melhores” e é isso.

É um conselho ótimo! Eu imagino o quanto ele foi importante para fazer vocês seguirem em frente.
Com certeza.

E vocês estão lançando agora um novo álbum, o “III”, que foi lançado primeiramente como três “capítulos” diferentes. Como surgiu essa ideia, de separar um disco em três partes?
Eu acho que foi em 2005 ou em 2004, Wesley estava revirando um diário velho, ele já tinha tido essa ideia há muito tempo. Eu lembro que trabalhamos nele [no diário] juntos, e sabíamos até como íamos chamar o projeto. Nós já tínhamos 15 músicas e a ideia de separá-las em Capítulo I, Capítulo II e Capítulo III e iríamos chamá-los de “Love, Loss and Crimes”, teríamos 5 músicas por capítulo. Achamos que seria um conceito bacana para um álbum, lançá-lo como 3 EPs diferentes, cada um com 5 músicas. O problema, se não me engano, era que as músicas não eram muito boas, e eu acho que a ideia era legal, mas nunca teve um material propriamente dito para fazê-la funcionar.
Porque no primeiro álbum, quando lançamos, nós éramos os “subestimados”, sabe? Que ninguém conhece, então se lançarem um disco ruim, as pessoas vão pensar “Ok”, porque elas já esperavam isso; e, se lançarem um bom: surpresa! [risos]. No segundo álbum, tem alguma pressão, para manter as pessoas ao redor ouvindo, as pessoas pensam “Eles são bons, vou continuar ouvindo”. Mas no terceiro álbum é estranho, porque você é só mais uma banda, lançando mais um projeto musical, com alguns trabalhos interessantes até agora, e você precisa algo diferente.
E com esse álbum, que resolvemos chamar de “III”, nós pensamos “O quão legal seria se colocássemos em prática a ideia dos capítulos agora? Um álbum lançado de forma não tradicional, e com um material muito interessante?”. Eu acho que com esses capítulos, lançado dessa forma não tradicional, ele se torna um álbum que não é só bom, é atrativo e muito inusitado. Talvez seja isso que o torne tão bom, porque você achará que ele funciona e é interessante. E também pode atrair novas pessoas para ouvirem o álbum todo, porque elas vão pensar “Ah, tudo bem, só 3 músicas, em 3 capítulos, eu consigo fazer isso” [risos]. E quando o álbum for lançado por completo, você vai perceber que já ouviu o álbum todo. Nós achamos que vai ser bem interessante.

E é muito interessante também porque é o terceiro álbum de vocês, chamado “3”… Foi muito inteligente essa escolha.
Sim, é bem interessante mesmo. Terceiro álbum, chamado 3, com 3 personagens principais chamados Glória Sparks, Jimmy Sparks e Júnior Sparks. 3 capítulos, vários números “3” espalhados pelo álbum, 3 clipes por EP… Eu acho que o resultado final vai ser muito lindo.


Eu também acho! Como foi o processo de produção e composição do disco? Como vocês deram vida a todas essas ideias?
Então, basicamente, nós tivemos muito mais ideias neste álbum, do que no segundo. E muito mais ideias no primeiro do que no segundo. No segundo, a dificuldade foi que nós quase esgotamos todas as nossas boas ideias no primeiro álbum [risos]. Então na hora de começar o segundo álbum, acho que não tínhamos muitas ideias prontas, precisamos pensar mais.
Quando chegamos no disco “III”, já tínhamos muito mais ideias para músicas. Pegamos várias ideias que escrevemos de forma independente, durante nossa turnê, nos Estados Unidos... Pegamos esses “rascunhos” e meio que olhamos para eles com mais calma. Eu acho que para mim, pessoalmente, são algumas das melodias para piano mais legais que eu já escrevi, tem muito piano nesse novo disco. Nós trabalhamos com a equipe do estúdio com mais calma, tivemos mais tempo para realmente trabalhar e aprimorar os sons que tínhamos na cabeça. Tivemos mais tempo para fazer o nosso melhor. Eu acho que neste álbum nós soamos o melhor que já soamos em um álbum, os sons da bateria, do piano, as guitarras… Tudo. Acho que nós realmente tivemos mais tempo e talvez inteligência em fazer nosso trabalho com mais “camadas” em nossas gravações.

Tem diferença entre compôr sobre experiências pessoais e experiências de outras pessoas?
Boa pergunta! Eu acho que a coisa interessante quando você escreve sobre experiências pessoais é que provavelmente você está escrevendo sobre experiências de outras pessoas, você só não sabe disso ainda porque ninguém está falando sobre isso. Este novo álbum mostra uma família fictícia, que lida com o alcoolismo, o vício, sabe? Isso tem um grande impacto neles, porque tem um membro da família sofrendo com o alcoolismo e com o vício.
E isso é algo que até na minha própria vida pessoal… Meu irmão mais velho, há mais ou menos 20 anos, ficou preso nisso, e foi a pior coisa que aconteceu na minha vida. Perdi meu irmão, Joshua, e desde que começamos esta banda nós sempre tentamos falar sobre experiências pessoais.
Então, como eu disse, a sua pergunta é muito difícil, mas eu acho que justamente quanto mais pessoal, mais específica [a música], mais pessoas se identificam com ela. Especialmente músicas que falem sobre alcoolismo, drogas, muitas pessoas não falam sobre isso. Tipo na música “Glória” que fala diretamente sobre isso. Acho que as pessoas ficam preocupadas com o “feedback” ou o tipo de reação que os ouvintes terão, se será positivo, o que eles vão achar, e blá blá blá. Então, acho que quanto mais pessoal, ironicamente, mais nós precisamos falar e mais as pessoas se conectam.

Eu entendo. E vocês geralmente escrevem as músicas juntos, certo?
Isso!

Então, qual você diria, se existir um, é claro, que é o maior desafio de escrever uma música com alguém?
Acho que o maior desafio, na composição em geral, é encontrar uma forma de fazer seu som ser diferente, único. Seja isso no piano, na guitarra… Na maioria das vezes, senão literalmente todas [risos], estamos sentados com um piano ou violão, e não escrevemos nada ou pensamos em nada, tudo bem… E aí do nada, em um segundo, vem alguma coisa que soa diferente, único, ou apenas empolgantemente novo, essa é a melhor parte, e então se torna meio que fácil. Assim que você tem uma frase, ou alguma coisa legal no violão ou no piano, é bem divertido de trabalhar nisso. Porque você sabe que tem algo ótimo, e você só tem que “vestí-lo”, por assim dizer, é uma parte bem divertida. A parte desafiadora mesmo é descobrir uma nota interessante, ou algo que você sinta que vai se destacar. Nada de comum ou entediante, pensar fora da caixa, você quer criar algo que soe único. Com tantas bandas, artistas, e músicas hoje em dia, é muito difícil conseguir criar algo nunca ouvido antes.

Realmente parece difícil, mas também muito divertido e recompensador quando você finalmente consegue uma ideia legal, não?
Com certeza!

E o que fez vocês escolherem uma personagem feminina como a protagonista do EP I?
Então, Glória Sparks… Uma personagem fictícia mas inspirada em pessoas reais. A coisa mais difícil em escolher um single, é que ele precisa fazer sentido para o álbum inteiro. Então, você tem que bolar toda a história, a família, e um single. Nós achamos que “Glória” seria a música perfeita para meio que dizer “Ei, ouve esse novo álbum, mas ouve o EP primeiro”.
A partir dela, tivemos a ideia para um filme e daí a história foi se desenvolvendo. Achamos que “Glória” era uma ótima música para começar as coisas de uma forma bem “The Lumineers”, ela é uma música bem rápida, agitada, com bateria marcante. Então achamos que ela era uma ótima música pra dizer “Ei, olha essa música. Olha o álbum todo. Olha a ideia toda”.

Neste novo álbum, eu, pessoalmente, senti que vocês quiseram imprimir um pouco mais dessa coisa visual nas músicas, usando várias frases de ação nas letras delas, como em “Left For Denver”, com frases como “cross the street” (atravessar a rua), “spike a gatorade” (alterar um gatorade). E por causa disso, eu me senti mais imersa na estória do álbum. Por isso, eu gostaria de saber, isso foi algo intencional, vocês pretendiam causar essa sensação de “imersão” nos fãs?
Muito obrigado! Eu não tô ouvindo muitas perguntas desse tipo, só sobre quem realmente é Glória, e quem é realmente isso ou aquilo [risos]. Esta é uma ótima pergunta, então, é mais ou menos assim que as estórias decolam. Imagine Harry Potter, ou a estória que for, os nomes dos personagens, sua complexidade, descrevê-los visualmente, é o que faz os personagens parecerem reais, como se você pudesse dar um abraço no personagem, como se pudesse tocá-lo. Eu acho que a gente realmente queria, com este álbum, claro os videoclipes ajudaram bastante também, mas quanto às letras, 99% acho que queríamos focar nessa descrição mais detalhada; para que, mesmo sem os vídeos, os personagens não fossem comprometidos e continuassem parecendo reais.


Por último mas não menos importante, gostaríamos de saber: Vocês tem planos de vir ao Brasil em breve?
Ah, obrigado! [em português] [risos]. Brasil! Nós nos divertimos tanto da última vez que fomos no Brasil, queremos muito voltar!

E nós queremos muito que vocês venham!
Queremos muito voltar em breve! Esperamos conseguir! Eu sou um grande fã do Brasil em geral, adoro futebol, o [jogador] Kaká... É assim que fala?

[Risos] É sim!
Então, Kaká… E gosto muito do Brasil em geral, fomos aí uns quatro ou cinco anos atrás em turnê, e nós temos uma piada interna na banda, porque sempre que postamos uma foto de turnê ou qualquer coisa nas redes sociais, tudo que nós lemos é, literalmente, “Come to Brazil”, “Come to Brazil”. [Risos]. Eu prometo que nós vamos voltar, não se preocupem, nós adoramos o Brasil, temos muitos fãs aí…

[Risos] Com certeza tem, eu inclusa!
Pois é! [risos]

Para terminar, você poderia deixar uma mensagem para os fãs brasileiros que estão ansiosos para ver vocês aqui?
Queridos fãs brasileiros, nós estamos chegando!

Eu vou considerar isso uma promessa, ok? [risos]
Ok, combinado! [risos]

Se vocês não cumprirem, a gente vai continuar enchendo as fotos de vocês com “Come to Brazil”! [risos]
Tudo bem [risos]. Obrigado, obrigado! [em português].

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Pauta e entrevista: Andressa Gonçalves.

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