Qual
a receita para o sucesso? Talvez,
a pergunta mais correta seja: Qual a receita para um sucesso
duradouro?
Pelo
menos no mundo do entretenimento, a resposta pode parecer simples:
estar sempre se reinventando. Mas, a realidade, é que a resposta não
é tão simples assim. Além da readaptação constante, uma série
de outros fatores importantes precisam entrar na conta, para que o
público continue gostando do artista em questão: a criatividade,
uma boa comunicação com o público e, principalmente, a
originalidade.
E
é exatamente por cumprir todos esses itens com maestria, que a banda
norte-americana The Lumineers, mesmo com tantos anos de
existência, continua firme e forte na estrada da relevância, sempre
caminhando rumo a um público ainda maior e ainda mais fiel.
Recentemente,
conversamos com Jeremiah Fraites, o responsável pela bateria
e percurssão da banda, que contou com exclusividade ao Indieoclock
mais detalhes sobre o novo álbum de estúdio da banda, “III”,
lançado hoje (13/09). Além disso, o artista ainda compartilhou uma
piada interna do grupo, falou sobre o amor que eles têm pelo Brasil
e o contou o melhor conselho que eles já receberam.
Para
quem não sabe, o The Lumineers adotou um método diferente
para o lançamento de seu novo álbum: ele foi dividido em três
partes, chamadas de capítulos, cada um deles composto por 3 músicas
diferentes. Cada capítulo foca em um personagem diferente, todos
membros da fictícia família “Spark”. Ao longo dos meses,
lançamos diversas matérias falando a respeito de cada single
e videoclipe lançado, e você pode conferí-los aqui.
Nesta
nova obra, o grupo insere o ouvinte na história dos “Spark”,
falando sobre vários temas importantes e atuais, como a dependência
química e alcoólica.
The
Lumineers é uma banda que dispensa apresentações, eles ficaram
conhecidos mundialmente em 2014 com o hit “Hey Ho”,
que já acumula mais de 208 milhões visualizações só
no YouTube.
Sobre
o trabalho mais recente do grupo, “III”, o Indieoclock
ouviu o disco antecipadamente, e em breve estará disponível no site
uma resenha completa sobre ele.
Enquanto
isso, confira a nossa entrevista:
Bom,
primeiramente, gostaríamos de saber se teve algum conselho que vocês
receberam no início da carreira e que marcou vocês. E, se sim, qual
foi?
Então,
eu e o Wesley trabalhamos na banda por aproximadamente 13
anos. E, aproximadamente 13 anos atrás, nós tínhamos muitas
músicas que escrevemos e lançamos, e que formaram o nosso primeiro
álbum. Nós o enviamos para uma gravadora que eu não lembro o nome,
era uma de Nova Iorque. Tínhamos esse álbum pronto na época, com
nossas melhores músicas; enviamos para a gravadora e pensamos “Ai,
meu Deus, seremos famosos, as pessoas vão conhecer nossas músicas!”.
E aí o presidente da gravadora nos disse: “Boas músicas, elas tem
potencial, mas continuem caminhando, vocês não chegaram lá ainda.
Continuem escrevendo músicas melhores, talvez um dia...”, algo
assim.
E
eu acho que foi um dos melhores conselhos que já recebemos porque
[nós pensamos] que
ficaríamos conhecidos e faríamos sucesso com músicas que eram
apenas ok, talvez até medíocres.
Também
acho que foi o melhor conselho porque, nos anos seguintes, a gente só
compôs novas músicas, e tentamos fazer músicas melhores, com mais
qualidade. Tentamos fazer gravações melhores, tentamos adicionar um
novo instrumento, tudo no nosso processo [de
criação]... nós só tentávamos melhorar e melhorar. E
acho que isso foi ótimo porque você pode fazer músicas boas, e
você pode fazer músicas ótimas, e eu acho que músicas ótimas são
sempre a meta. Acho que quando a banda tem músicas boas isso pode,
potencialmente, ser um problema, porque as pessoas pensam “ah,
vocês tem músicas legais, são ok, mas podem ser muito melhores”
e é isso.
É
um conselho ótimo! Eu imagino o quanto ele foi importante para fazer
vocês seguirem em frente.
Com
certeza.
E
vocês estão lançando agora um novo álbum, o “III”, que foi
lançado primeiramente como três “capítulos” diferentes. Como
surgiu essa ideia, de separar um disco em três partes?
Eu
acho que foi em 2005 ou em 2004, Wesley estava revirando um
diário velho, ele já tinha tido essa ideia há muito tempo. Eu
lembro que trabalhamos nele [no
diário] juntos, e sabíamos até como íamos chamar o
projeto. Nós já tínhamos 15 músicas e a ideia de separá-las em
Capítulo I, Capítulo II e Capítulo III e iríamos chamá-los de
“Love, Loss and Crimes”, teríamos 5 músicas
por capítulo. Achamos que seria um conceito bacana para um álbum,
lançá-lo como 3 EPs diferentes, cada um com 5 músicas. O problema,
se não me engano, era que as músicas não eram muito boas, e eu
acho que a ideia era legal, mas nunca teve um material propriamente
dito para fazê-la funcionar.
Porque
no primeiro álbum, quando lançamos, nós éramos os “subestimados”,
sabe? Que ninguém conhece, então se lançarem um disco ruim, as
pessoas vão pensar “Ok”, porque elas já esperavam isso; e, se
lançarem um bom: surpresa! [risos].
No segundo álbum, tem alguma pressão, para manter as pessoas ao
redor ouvindo, as pessoas pensam “Eles são bons, vou continuar
ouvindo”. Mas no terceiro álbum é estranho, porque você é só
mais uma banda, lançando mais um projeto musical, com alguns
trabalhos interessantes até agora, e você precisa algo diferente.
E
com esse álbum, que resolvemos chamar de “III”, nós
pensamos “O quão legal seria se colocássemos em prática a ideia
dos capítulos agora? Um álbum lançado de forma não tradicional, e
com um material muito interessante?”. Eu acho que com esses
capítulos, lançado dessa forma não tradicional, ele se torna um
álbum que não é só bom, é atrativo e muito inusitado. Talvez
seja isso que o torne tão bom, porque você achará que ele funciona
e é interessante. E também pode atrair novas pessoas para ouvirem o
álbum todo, porque elas vão pensar “Ah, tudo bem, só 3 músicas,
em 3 capítulos, eu consigo fazer isso” [risos].
E quando o álbum for lançado por completo, você vai perceber que
já ouviu o álbum todo. Nós achamos que vai ser bem interessante.
E
é muito interessante também porque é o terceiro álbum de vocês,
chamado “3”… Foi muito inteligente essa escolha.
Sim,
é bem interessante mesmo. Terceiro álbum, chamado 3, com 3
personagens principais chamados Glória Sparks, Jimmy
Sparks e Júnior Sparks. 3 capítulos, vários números
“3” espalhados pelo álbum, 3 clipes por EP… Eu acho que o
resultado final vai ser muito lindo.
Eu
também acho! Como foi o processo de produção e composição do
disco? Como vocês deram vida a todas essas ideias?
Então,
basicamente, nós tivemos muito mais ideias neste álbum, do que no
segundo. E muito mais ideias no primeiro do que no segundo. No
segundo, a dificuldade foi que nós quase esgotamos todas as nossas
boas ideias no primeiro álbum [risos].
Então na hora de começar o segundo álbum, acho que não
tínhamos muitas ideias prontas, precisamos pensar mais.
Quando
chegamos no disco “III”, já tínhamos muito mais ideias
para músicas. Pegamos várias ideias que escrevemos de forma
independente, durante nossa turnê, nos Estados Unidos... Pegamos
esses “rascunhos” e meio que olhamos para eles com mais calma. Eu
acho que para mim, pessoalmente, são algumas das melodias para piano
mais legais que eu já escrevi, tem muito piano nesse novo disco. Nós
trabalhamos com a equipe do estúdio com mais calma, tivemos mais
tempo para realmente trabalhar e aprimorar os sons que tínhamos na
cabeça. Tivemos mais tempo para fazer o nosso melhor. Eu acho que
neste álbum nós soamos o melhor que já soamos em um álbum, os
sons da bateria, do piano, as guitarras… Tudo. Acho que nós
realmente tivemos mais tempo e talvez inteligência em fazer nosso
trabalho com mais “camadas” em nossas gravações.
Tem
diferença entre compôr sobre experiências pessoais e experiências
de outras pessoas?
Boa
pergunta! Eu acho que a coisa interessante quando você escreve sobre
experiências pessoais é que provavelmente você está escrevendo
sobre experiências de outras pessoas, você só não sabe disso
ainda porque ninguém está falando sobre isso. Este novo álbum
mostra uma família fictícia, que lida com o alcoolismo, o vício,
sabe? Isso tem um grande impacto neles, porque tem um membro da
família sofrendo com o alcoolismo e com o vício.
E
isso é algo que até na minha própria vida pessoal… Meu irmão
mais velho, há mais ou menos 20 anos, ficou preso nisso, e foi a
pior coisa que aconteceu na minha vida. Perdi meu irmão, Joshua, e
desde que começamos esta banda nós sempre tentamos falar sobre
experiências pessoais.
Então,
como eu disse, a sua pergunta é muito difícil, mas eu acho que
justamente quanto mais pessoal, mais específica [a música],
mais pessoas se identificam com ela. Especialmente músicas que
falem sobre alcoolismo, drogas, muitas pessoas não falam sobre isso.
Tipo na música “Glória” que fala
diretamente sobre isso. Acho que as pessoas ficam preocupadas com o
“feedback” ou o tipo de reação que os ouvintes terão, se será
positivo, o que eles vão achar, e blá blá blá. Então, acho que
quanto mais pessoal, ironicamente, mais nós precisamos
falar e mais as pessoas se conectam.
Eu
entendo. E vocês geralmente escrevem as músicas juntos, certo?
Isso!
Então,
qual você diria, se existir um, é claro, que é o maior desafio de
escrever uma música com alguém?
Acho
que o maior desafio, na composição em geral, é encontrar uma forma
de fazer seu som ser diferente, único. Seja isso no piano, na
guitarra… Na maioria das vezes, senão literalmente todas [risos],
estamos sentados com um piano ou violão, e não escrevemos nada ou
pensamos em nada, tudo bem… E aí do nada, em um segundo, vem
alguma coisa que soa diferente, único, ou apenas empolgantemente
novo, essa é a melhor parte, e então se torna meio que fácil.
Assim que você tem uma frase, ou alguma coisa legal no violão ou no
piano, é bem divertido de trabalhar nisso. Porque você sabe que tem
algo ótimo, e você só tem que “vestí-lo”, por assim dizer, é
uma parte bem divertida. A parte desafiadora mesmo é descobrir uma
nota interessante, ou algo que você sinta que vai se destacar. Nada
de comum ou entediante, pensar fora da caixa, você quer criar algo
que soe único. Com tantas bandas, artistas, e músicas hoje em dia,
é muito difícil conseguir criar algo nunca ouvido antes.
Realmente
parece difícil, mas também muito divertido e recompensador quando
você finalmente consegue uma ideia legal, não?
Com
certeza!
E
o que fez vocês escolherem uma personagem feminina como a
protagonista do EP I?
Então,
Glória Sparks… Uma personagem fictícia mas inspirada em pessoas
reais. A coisa mais difícil em escolher um single,
é que ele precisa fazer sentido para o álbum inteiro. Então, você
tem que bolar toda a história, a família, e um single. Nós achamos
que “Glória” seria a música perfeita para meio que dizer
“Ei, ouve esse novo álbum, mas ouve o EP primeiro”.
A
partir dela, tivemos a ideia para um filme e daí a história foi se
desenvolvendo. Achamos que “Glória” era uma ótima música
para começar as coisas de uma forma bem “The Lumineers”, ela é
uma música bem rápida, agitada, com bateria marcante. Então
achamos que ela era uma ótima música pra dizer “Ei, olha essa
música. Olha o álbum todo. Olha a ideia toda”.
Neste
novo álbum, eu, pessoalmente, senti que vocês quiseram imprimir um
pouco mais dessa coisa visual nas músicas, usando
várias frases de ação nas
letras delas, como em “Left For Denver”, com frases como “cross
the street” (atravessar a rua), “spike a gatorade” (alterar um
gatorade). E por causa disso, eu me
senti mais imersa na estória do álbum. Por isso, eu gostaria de
saber, isso foi algo
intencional, vocês pretendiam causar essa sensação de “imersão”
nos fãs?
Muito
obrigado! Eu não tô ouvindo muitas perguntas desse tipo, só
sobre quem realmente é Glória, e quem é realmente
isso ou aquilo [risos]. Esta
é uma ótima pergunta, então, é mais ou menos assim
que as estórias decolam. Imagine Harry Potter,
ou a estória que for, os nomes dos personagens, sua
complexidade, descrevê-los visualmente, é o que faz os personagens
parecerem reais, como se você pudesse dar um abraço
no personagem, como se pudesse tocá-lo. Eu acho que a gente
realmente queria, com este álbum, claro os videoclipes ajudaram
bastante também, mas quanto às letras, 99% acho que queríamos
focar nessa descrição mais detalhada; para que, mesmo
sem os vídeos, os personagens não fossem
comprometidos e continuassem parecendo reais.
Por
último mas não menos importante, gostaríamos de saber: Vocês
tem planos de vir ao Brasil em breve?
Ah,
obrigado! [em português]
[risos]. Brasil!
Nós nos divertimos tanto da última vez que fomos no Brasil,
queremos muito voltar!
E
nós queremos muito que
vocês venham!
Queremos
muito voltar em breve! Esperamos conseguir! Eu sou um grande fã do
Brasil em geral, adoro futebol, o
[jogador] Kaká... É assim que fala?
[Risos]
É sim!
Então,
Kaká… E gosto muito do Brasil em geral, fomos aí uns quatro ou
cinco anos atrás em turnê, e nós temos uma piada interna na banda,
porque sempre que postamos uma foto de turnê ou qualquer coisa nas
redes sociais, tudo que nós lemos é, literalmente, “Come to
Brazil”, “Come to Brazil”. [Risos].
Eu prometo que nós vamos voltar, não se preocupem, nós adoramos o
Brasil, temos muitos fãs aí…
[Risos]
Com certeza tem,
eu inclusa!
Pois
é! [risos]
Para
terminar, você poderia deixar uma mensagem para os fãs brasileiros
que estão ansiosos para ver
vocês aqui?
Queridos
fãs brasileiros, nós estamos chegando!
Eu
vou considerar isso uma promessa, ok? [risos]
Ok,
combinado! [risos]
Se
vocês não cumprirem, a gente vai continuar enchendo
as fotos de vocês com “Come to Brazil”! [risos]
Tudo
bem [risos]. Obrigado,
obrigado! [em português].
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Pauta e entrevista: Andressa Gonçalves.
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