Greg Gonzalez (vocalista do Cigarettes After Sex) | Foto: Beatriz Manola |
Cigarettes After Sex esteve recentemente no Brasil para uma
apresentação única em São Paulo, a banda marcou presença pela segunda vez na
casa de show Cine Joia, no último domingo (25). Mais uma vez em turnê com seu álbum
homônimo, o grupo segue esgotando shows por onde passa.
O Indieoclock bateu um papo com o vocalista Greg
Gonzalez, que nos contou sobre sua admiração pelos fãs brasileiros, a influência
do cinema estrangeiro para o Cigarettes After Sex, suas inspirações no visual
da banda e até mesmo covers inéditos que já produziram e não lançaram
ainda.
Em 2017 vocês tocaram no Brasil pela primeira vez no Cine Jóia e hoje
vocês voltam para tocar novamente no mesmo lugar, mas dessa vez com a casa
esgotada. Qual a sensação de estar de volta tão cedo?
É muito legal estar de volta, eu sinto que o Brasil foi um dos primeiros
países a apoiar a banda, antes mesmo de virmos para cá. Então pra mim sempre
foi um lugar muito querido, nossos fãs brasileiros significam demais para nós e
eles foram um dos primeiros a realmente olharem pra nós. Então é muito legal
estar aqui, toda vez que vir para cá agora vai ser algo como: 'Ok, é hora de ir
pro Brasil e os fãs vão estar muito animados por estarmos lá'.
Da última vez aqui depois do show vocês fizeram um pequeno after party
com os fãs em um karaokê aqui perto. Vocês tiveram mais alguma oportunidade de
conhecer a cidade e de visitar outros lugares do Brasil nessa passagem pelo
país?
Então, é uma vergonha porque ainda não tivemos tempo, toda vez que
chegamos aqui estamos a caminho de outro lugar logo depois, porque estamos
tentando ir a maior quantidade de lugares possíveis, então está funcionando da
mesma maneira dessa vez. Amanhã nós teremos um tempo extra e acredito que vamos
dar uma rodada pela cidade.
O nome da banda e
a maioria das músicas da banda remetem e ilustram cenas muito claras de um
clima amoroso e sensual, de onde surgiu a vontade de falar sobre sexo de uma
maneira tão pura e calma, mas que não deixa de ser visceral?
Eu sinto que tudo expressa muito das minhas emoções internas e a pessoa
que me tornei. Eu sempre pensava que relacionamentos eram sempre muito
românticos, apaixonados e profundos, então peguei essas experiências e comecei
a escrever mais sobre elas.
E também notei que eu não via muitos artistas falando sobre sexo dessa
maneira, era sempre de uma maneira agressiva e em músicas dançantes e não via
ninguém falar de sexo de uma maneira gentil, estava sentido falta disso por
alguma razão. Então pensei 'Eu quero fazer isso pois não vejo ninguém fazendo,
e também porque soa natural para mim'.
Mas basicamente vem da minha personalidade, a música é gentil porque eu
me sinto como essa pessoa 'melosa', então ela se transmite dessa maneira.
Greg Gonzalez (vocalista do Cigarettes After Sex) | Foto: Beatriz Manola |
Falando em cenas,
gostaria de falar um pouco sobre a relação do cinema com a música da banda.
Quem vê o show de vocês pode observar nas projeções do palco curtas cenas que
parecem ter sido tiradas de filmes dos anos 50. Esse cinema romântico do
passado influência de alguma maneira a forma de composição da banda e de
construir uma narrativa sobre isso?
Eu gosto muito de deixar tudo bem pessoal, é como se eu tivesse uma
coleção de coisas que eu gosto muito e é essa coleção que eu quero compartilhar
com o público. Eu vi um filme tempos atrás onde uma atriz basicamente estava
parada na frente de uma tela preta e encarava a câmera e eu pensei: 'Isso é
lindo e eu quero inserir isso no show'.
Eu venho sendo influenciado pelo cinema de todas as décadas, mas os que
estamos projetando são em sua maioria do cinema francês 'new wave', o cinema
artístico, muito do cinema espanhol. Um grande mix dessas coisas que acaba se
tornando bem pessoal.
Mesmo depois do lançamento de um álbum e alguns EPs, vocês não têm
nenhum clipe gravado. Tendo o cinema como uma grande inspiração, acreditam que
ele poderia vir a influenciar a produção de algo que traga uma linguagem
semelhante?
Definitivamente iria. E acho que conforme estamos lançando música atrás
de música, o próximo projeto que podemos fazer é produzir algo como um vídeo.
Seria mais como um curta metragem, onde filmariamos algo antes para depois
inserirmos a música.
Mas com certeza é uma das próximas ideias a se pensar porque acho que
temos que trabalhar a parte visual dessas músicas, mais do que a capa do álbum
e essas coisas. Então vamos trabalhar essa ideia até o próximo ano e ver se
pode acontecer.
E se vocês
pudessem escolher um diretor pra dirigir algo de vocês, quem seria?
Um dos meus diretores favoritos e o que eu definitivamente escolheria é
Éric Rohmer, ele é um diretor do cinema francês 'new wave' e uma grande
influência para mim. Olhando para os filmes dele sinto algo muito semelhante as
músicas do Cigarettes, são romances modernos. Ele escolhe locações exóticas
pela Europa e é muito simples, muito romântico e com belas paisagens. Quando eu
penso em alguém é definitivamente nele, acho que o estilo dele combina muito
com o que fazemos na banda.
Greg Gonzalez (vocalista do Cigarettes After Sex) | Foto: Beatriz Manola |
A identidade da banda é algo monocromático, que combina até mesmo com a
sonoridade sombria de vocês. Quais são as inspirações na hora de produzir as
fotos para EPs e Singles, e outros materiais?
Acho que a construção desse estilo veio da capa do nosso primeiro EP, a
fotografia de Man Ray. E quando vi aquilo eu pensei 'Ok, é esse estilo exato
que quero para o Cigarettes', é algo bem sensual, e o preto e branco me levava
para uma visão quase surreal daquilo, soava bem sonhador. Então depois de ver
aquilo eu pensei que era o que queria e dali saiu tudo que fizemos depois, que
também foi inspirado no cinema preto e branco.
O que muita gente
não sabe, mas uma das músicas de mais sucesso da banda que se chama “Keep On
Loving You” é na verdade uma releitura da versão original produzida na década
de 80 pela banda REO Speedwagon. É uma versão incrível que traz a
contemporaneidade e o minimalismo da Cigarettes After Sex, vocês gostariam de
regravar mais alguma música?
É engraçado porque toda vez que estou ouvindo alguma música me pego
pensando 'Será que poderíamos fazer um cover disso?'. Mas geralmente é bem
aleatório, eu acho que gostaria de fazer covers de diversos gêneros. O último
que fizemos foi 'Neon Moon' que é do Brooks & Dunn, e uma música que estou
pensando em fazer cover agora é 'The Dance' do Garth Brooks e é uma que venho
pensando em fazer há muito tempo então talvez aconteça.
Já fizemos covers de bandas como The Doors, Radiohead, mas quem sabe um
dia elas não saiam?
Em relação as composições que geralmente são feitas por Greg Gonzalez
(vocalista) podem nos contar qual o seu melhor momento para escrever? O que te
inspira mais ou o que te ajuda a se expressar por meio de suas canções?
Geralmente meu jeito favorito de compor é tocar a guitarra ou o piano e
apenas cantar, e a partir dali escrever as letras. Da maneira clássica e
antiga. As novas músicas que temos para lançar aconteceram conosco gravando
toda a música primeiro e depois eu escrevi a letra, o que foi muito mais difícil
de se fazer, mas é foi legal descobrir que consigo fazer dessa maneira também.
Mas definitivamente não é meu jeito favorito de se fazer.
Greg Gonzalez (vocalista do Cigarettes After Sex) | Foto: Beatriz Manola |
Pauta: Beatriz Manola e Lucas Henrique
Entrevistador: Lucas Henrique
0 Comentários