"A música é baseada em sentimentos antes de tudo, e isso sempre permanece". Confira a nossa entrevista com o The Inspector Cluzo!

The Inspector Cluzo | Foto: Divulgação


A pacata Gasconha, região no interior do sudoeste da França, jamais imaginou que um dia sairiam dois roqueiros de lá. Mas foi exatamente isso que aconteceu, Laurent Lacrouts (guitarra e vocais) e Mathieu Jourdain (bateria) formaram, em 2008, o duo de blues rock The Inspector Cluzo.

Inicialmente, eles formavam um trio, com um terceiro membro que era vocalista e também baixista da banda. Pouco tempo depois de sua saída, os dois (Laurent e Mathieu) decidiram continuar a trabalhar juntos, apenas como dupla, excluindo de vez um possível baixista do projeto. Isso, inclusive, gerou várias piadas internas, que resultaram no nome da gravadora deles: Fuckthebassplayer Records.

Eles já acumulam 1 EP e 6 álbuns de estúdio, o mais recente deles tendo sido o incrível "We The People Of The Soil", lançado em 2018, e produzido por Vance Powell, que já trabalhou com Jack White e The Raconteurs.


Além da música, eles possuem uma fazenda juntos, de onde vem parte do seu sustento. Lá, eles vendem produtos orgânicos e cultivam diversas plantas frutíferas, além de gansos, patos e cabras.

Na parte musical, eles já viajaram o mundo inteiro e, mais recentemente, tocaram na edição 2019 do Lollapalooza Brasil. O Indieoclock teve a oportunidade de conversar com eles, e o resultado você confere a seguir:


Em que momento vocês perceberam que música era mais do que um hobbie e que vocês queriam fazer isso profissionalmente?
T.I.C.: Bem, nós tocamos música desde os 7, 8 anos de idade, então ela sempre foi parte da nossa vida. Mesmo vivendo da nossa música agora, estamos cientes que isso só é possível pelo número de fãs que temos. Nós continuaremos fazendo música mesmo se não pudermos viver disso.
É por esse motivo que compramos uma fazenda e vivemos também do que produzimos nela. A ideia é ser auto-suficiente, para que sejamos livres para fazer o que quisermos musicalmente. 

Para pessoas que conheceram vocês pelo festival Lollapalooza ou através desta entrevista, quais músicas vocês recomendariam que elas ouvissem para entender melhor o seu trabalho?
T.I.C.: Para entrar um pouco no nosso universo musical, recomendaríamos que ouvissem "A Man Outstanding In His Field", "Fisherman" e "Little Girl And The Whistlin' Train".
Elas dão uma amostra da nossa música, ainda que nosso estilo musical seja bem amplo... não há fronteiras desde que venha do coração.




Alguns especialistas dizem que bandas com som embasado em guitarras não estão mais "na moda". Sendo uma dupla que usa muito a guitarra em suas músicas, o que vocês acham disso? É uma tendência real?
T.I.C.: [Risos]. Sim, você fala sobre bandas tocarem de verdade nas músicas, de fato, elas não usam mais guitarras reais. Nós acreditamos que bandas com som realmente embasado em guitarra ainda têm um bom espaço no cenário musical, contanto que seja real, autêntico, original e tocado com alma.
Porque, não esqueça, a música é baseada em sentimentos antes de tudo, e isso sempre permanece. Talvez não para bandas que fazem tudo por computador.

Recentemente vocês lançaram o álbum "We The People of the Soil" (2018), quais foram suas principais inspirações para o disco?
T.I.C.: Nossa principal inspiração para a música, em geral, é baseada no que experimentamos, no que vivemos. Então: nosso trabalho na fazenda, viver na natureza, nossas viagens ao redor do mundo, e conhecer pessoas e culturas diferentes.

Qual é a melhor parte de ser uma dupla e não uma banda? E a pior?
T.I.C.: A melhor parte é ser muito mais fácil para tudo: cronograma, viajar, conhecer pessoas e estar de acordo em tudo.
A pior: é mais difícil no palco, porque você tem que estar 110% alí, o tempo todo.

Mesmo sendo franceses, suas músicas são todas compostas em Inglês. Vocês se sentem mais confortáveis escrevendo em uma língua estrangeira? Isso ajuda na sua criatividade?
T.I.C.: Nos sentimos mais confortáveis de escrever em inglês porque estamos fazendo Rock N Roll; e o Rock N Roll precisa ser em inglês, para mantermos o impacto de cantar em inglês americano, não um inglês que soe diferente para a gente.
Esse tipo de música vem do interior dos Estados Unidos, então nós, naturalmente, usamos um dialeto do interior do país, ajudados por um amigo próximo que é americano e vive em Gascony como nós. Isso nos dá criatividade, já que usamos o idioma adicionando um toque de gascão nas músicas.

Como funciona o processo criativo do The Inspector Cluzo? Na hora de compôr uma canção, vocês montam todas as ideias juntos ou cada membro traz uma ideia diferente para uma parte da música?
T.I.C.: As músicas são em sua maior parte compostas com o violão e a voz. Então nós decidimos como serão os arranjos, se totalmente elétricos, ou, apenas acústicos, adicionando alguns elementos (de corda, percussão e etc).

Como você definiria o som de vocês em uma frase?
T.I.C.: Difícil dizer, mas eu diria que nossa música é um Blues Rock N Soul Altamente Energético.

O nome da dupla é referência ao personagem Inspetor Clouseau, da série de filmes A Pantera Cor de Rosa. Qual o filme preferido de vocês?
T.I.C.: Nosso filme favorito é Um Convidado Bem Trapalhão (1968).

O que vocês mais gostaram no Brasil?
T.I.C.: É difícil dizer, já que não conseguimos ver muito, mas adoramos a forma que as pessoas são, muito legais, e também a música em português influenciada pelo samba.
Nós queríamos poder visitar o interior. Isso nos dá motivos para voltar...

Vocês aprenderam alguma palavra em Português?
T.I.C.: Sim, o básico: Muito Obrigado, Por Favor, Tudo bom, etc. Não é muito difícil para a gente já que na Gasconha estamos perto da Espanha. Então, com o espanhol influenciando o francês, nós conseguimos pegar algumas palavras em português.

Vocês conhecem algum artista brasileiro?
T.I.C.: Nós conhecemos e gostamos do Marcelo D2, Caetano Veloso Carlinhos Brown.

Qual foi o lugar do mundo que vocês mais gostaram de se apresentar?
T.I.C.: Nós gostamos muito de tocar no Fuji Rock Festival, no Japão, porque nossa carreira começou basicamente lá, e porque o festival tem uma atmosfera incrível.
Nós tocamos mais de 1000 shows em 65 países, então é difícil dizer quais foram os lugares mais legais em que nos apresentamos...






"Perguntas Rápidas":



Melodia ou letra?
T.I.C.: Melodia.

Criar músicas novas no estúdio ou estar em turnê?
T.I.C.: Ambos.

Artista preferido do momento?
T.I.C.: Nenhum em particular, mas diríamos Neil Young.

Parceria dos seus sonhos?
T.I.C.: Pearl Jam.

Outra profissão se a música não tivesse dado certo?
T.I.C.: Fazendeiros! Como já somos.

───────────────────────────────────────────────────────

Pauta e entrevista: Andressa Gonçalves

Postar um comentário

0 Comentários