Review: a intensidade de Manaia em seu álbum de estreia, "Na Borda"

O álbum de estreia de Manaia, intitulado Na Borda, mostra os muitos - e surpreendentes - aspectos da voz poderosa da cantora, da rouquidão rock n' roll até os agudos doces, qualidades que adquiriu quando se aprimorou em Técnica Vocal na Berklee College of Music, em Boston. 

Suas letras soam confessionais e abordam diferentes momentos de relacionamentos e a personalidade intensa da cantora, que representa a jovem mulher de hoje, cheia de expectativas e buscando por liberdade em meio à vida caótica do século 21.

O disco da cantora, compositora e multi-instrumentista carioca é completamente independente e inclui nove composições inéditas, com direção e produção artística da Uno Criativo.

O álbum se inicia com o próximo single do álbum, a pop e dançante “Vitrine”, cuja sonoridade alegre não permite ao ouvinte distraído perceber que se trata de uma faixa sobre depressão. O relato é baseado na experiência pessoal de Manaia, que foi diagnosticada com a síndrome de Borderline há alguns anos. Através da música que ela enfrentou e superou a doença, e hoje compartilha esse resultado com o mundo na faixa, com seu questionamento: O que falta?

A energia animada do álbum se segue em “Bem que a Gente”, onde os vocais mais agudos da cantora criam uma atmosfera paradisíaca para as provocações sinceras da cantora para uma paixão não correspondida. O refrão fica na mente e a faixa parece acabar cedo demais em seus 2 minutos e 25 segundos.

O álbum começa a desacelerar suavemente em “Laranja”, escrita por Manaia e seu irmão Gabriel: “Nós dois estávamos sofrendo por amor e começamos a escrever sem muito pretexto e a música foi vindo naturalmente”, lembra ela. A letra cita clichês como "a minha metade da laranja foi... Aonde está meu feijão com arroz?" para lamentar a partida de seu par perfeito.

A energia volta a se intensificar em "Medo”, já lançada como single, que fala do medo de se envolver num relacionamento. A faixa ganhou um clipe lindo que celebra as diferenças - inclusive nas formas de amor.
Em “Cobra Cascavel”, Manaia se mostra dona de si e liberta, e brinca com referências astrológicas em sua letra, que alerta que ela é uma mulher perigosa: "Eu sou do mundo mas eu não sou sua!". A música mostra a capacidade da artista de fazer um som mais radiofônico sem precisar esvaziar suas composições de significado, nem perder sua essência artística.

A faixa é seguida pela marcante “Loch Ness” tem mais referências noventistas, e a letra brinca com o fato da cantora ser pisciana, mas que pode se tornar um monstro do lago Ness. “Resolvi brincar sobre esse aspecto do monstro que derruba barcos e some com pescadores. Não sou de confronto, prefiro ficar embaixo d’água. Mas se mexer comigo, vai ver de onde venho”, alerta, rindo. 

Em “Maresia”, a cantora explora uma sonoridade mais alternativa que funciona muito bem com seus vocais, dando um ar nostálgico que combina perfeitamente com a letra.

O single debut da cantora, “Baby”, é a faixa seguinte, que parece melhor acomodada no conjunto. É uma música poderosa, com letra profunda, e parece resumir bem o conceito e sonoridade do álbum, mas ganha uma nova percepção quando escutada em ordem. 

A faixa-título “Na Borda” volta a surpreender, explorando uma tonalidade mais suave da voz de Manaia, inspirada sonoramente pelo fantástico universo de O Mágico de Oz. A música volta a falar sobre depressão, dessa vez sobre a sensação de fracasso ao receber o diagnóstico de borderline, É interessante que o disco se inicia sobre a busca pela superação, e termina com a faixa que fala sobre o sentimento paralisante de estar, de fato, "na borda."


Apesar de serem perceptíveis as influências musicais da cantora, como Pink, Linkin Park, Amy Winehouse, Pitty, Florence & The Machine e Etta James, para citar apenas algumas, o resultado final do disco é consistente e apresenta muito bem a personalidade vibrante de Manaia.

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