Texto: Luccas Emanuel e Larissa Catharine
Fotos: Luccas Emanuel
John Donovan pode não ser muito conhecido por seu nome de
nascença, mas sua carreira artística cresce cada vez mais, atraindo uma fanbase cada vez maior.
Nascido em Recife em agosto de 1987, Johnny Hooker começou sua
carreira musical como vocalista da banda Caldeia Rock City. Em 2009, viajou
para o Rio para participar do reality show
Geleia do Rock, do canal da
Multishow, com o nome de Johnny e The Hookers. A competição foi suspensa, mas
sua banda terminou como uma das vencedoras. Foi nesse programa que conheceu Joana Cid, baixista que o acompanha.
Após isso, Johnny teve que lidar com a morte de um dos integrantes de
sua banda, o guitarrista Rafael Mascarenhas, e em 2010 lançou seu primeiro
disco, intitulado Roquestar, pela Planmusic. O disco é biográfico, conta sobre
um garoto que abandona a cidade de Recife para seguir com seu sonho,
abandonando promessas de fama, contratos de gravadora e a tentativa de
superação da morte de seu amigo.
Após isso, Johnny começou a centrar sua
carreira artística para a atuação, participando do filme Tatuagem, de Hilton
Lacerda, em 2013 e da novela Geração Brasil em 2014. Não parando por aí, a
canção Alma Sebosa se integrou na trilha sonora de Geração Brasil, Volta foi
trilha sonora de Tatuagem e, em 2015, Amor Marginal tocava na novela das 9 Babilônia.
Isso tudo só serviu de promoção para seu
álbum Eu Vou Fazer Uma Macumba Pra te Amarrar, Maldito!, lançado em 2015, cuja
turnê estreou no nordeste brasileiro e caminhou também pelo sudeste do país. Esse foi o período de ascensão de sua carreira musical, chamando a atenção
das pessoas, seja por suas canções de letras exageradas (que falam de sexo,
vingança, amor e ódio) seja pelo seu estilo visual andrógeno e ousado.
Em apresentação no programa Altas Horas,
Johnny explicou a origem de seu nome artístico: ele era
apaixonado por uma garota que era rotulada de puta na escola por sua liberdade, então assumiu o
“Hooker” em seu nome em defesa à garota, declarando que caso chamassem ela de
prostituta, teriam que chamá-lo também.
Johnny encarna no palco e em seus clipes uma
verdadeira peça de teatro, trabalhando na produção e na direção da parte
visual. Com influências de David Bowie,
Madonna, Caetano Veloso, Cazuza e Amy Winehouse, ele tenta reencarnar o axé
e o frevo característicos da música brasileira.
“Axé, brega, frevo, isso é o nosso pop. Não tem mais como o mainstream segurar isso de ‘a gente só pode dar espaço aos artistas que tocam na rádio’. O que toca na rádio é uma merda!”, disse Johnny Hooker à revista Rolling Stone.
O cantor também conta que “tem faixas do meu disco que eu me refiro a mim mesmo no feminino. A música é muito machista, mas pra mim não existe outra maneira de agir, de me comportar. Música é resistência, a imagem é resistência, a linguagem é resistência”.
Johnny ganhou
a estatueta de Melhor Cantor de Canção Popular no Prêmio da Música Brasileira
pelo álbum Eu Vou Fazer Uma Macumba Pra te Amarrar, Maldito!, e foi elogiado por
Maria Bethânia, Caetano Veloso, Fafá de Belém e Alcione. Isso o ajudou a crescer como artista
e ter sua arte mais respeitada. “Foi o que faltava para as pessoas me respeitarem. A
música é (...) controlada pelo produto, por coisas que dão dinheiro.
As pessoas que chegam com apresentação forte, maquiagem, brincadeira com
gênero, com personagens, às vezes são recebidas com muita falta de respeito. O
mundo está mudando e sempre vai ter essa primeira reação de quem quer empurrar
a roda da história para trás. Mas a roda vem com tudo e eu venho com ela”.
No final da turnê Macumba, porém, Johnny enfrentou um período obscuro de depressão. O desgaste da turnê, que exigia tamanha doação física e emocional, e o fim conturbado de um relacionamento de 3 anos intensificaram a doença. O cantor conta em seus shows e entrevistas que chegou num momento em que desejou a morte - mas então lembrou-se de sua avó dizendo "Firme e forte feito um touro". E ouviu o som de palmas batendo, chamando-o para a vida. Começava ali o processo criativo de Coração.
"Gravei as canções em um processo muito doloroso. Não entendia direito o que estava acontecendo na minha vida. Esse novo álbum foi a salvação. A cada passo que dava para finalizar o disco, percebia que caminhava em direção à minha recuperação. ", disse em entrevista ao Estadão.O disco foi lançado em 2017, com participações das cantoras Liniker e Gaby Amarantos. Mais uma vez, Johnny mostra seus sentimentos em composições escancaradas e profundas sobre amor, relacionamentos abusivos, mas também sobre recomeço. O álbum é o marco de um verdadeiro renascimento pessoal do artista.
A turnê, que estreou em São Paulo, novo lar do cantor, tem viajado o país desde o último ano, com participações em grandes festivais - um deles o Rock In Rio 2017 - e também shows solo esgotados por um público fiel e crescente.
Em maio de 2018, Johnny Hooker foi nomeado campeão da igualdade da campanha da ONU Livres & Iguais no Brasil, pelo seu ativismo pela comunidade LGBTQ+.
Johnny Hooker é um dos artistas mais interessantes e autênticos do cenário musical brasileiro, com sua intensidade teatral e papel fundamental para a construção de um cenário artístico mais diverso e igualitário, dando voz a causas sociais importantes e proporcionando uma trilha sonora revolucionária em tempos onde precisamos resistir.
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