texto e fotos por Luccas Emanuel
Na última quinta feira (22), aconteceu o show de lançamento do álbum era dois de Bemti, no Sesc 24 de Maio, que contou com a participação especial dos artistas Johnny Hooker e Nina Oliveira. O espetáculo de cerca de uma hora foi impressionante, e foi o primeiro show não acústico do cantor, que também é integrante do grupo Falso Coral.
Um piano de cauda e sintetizadores na lateral esquerda do palco, uma bateria na lateral direita e no centro, um microfone ao lado de um banco com uma taça de vidro com água e um enfeite delicado: um bem-te-vi de madeira. O telão do fundo gritava o logotipo com o nome do álbum era dois. O teatro, que tinha capacidade para 250 pessoas, estava lotado. Todos esperavam pelo show de estreia do primeiro álbum solo de Bemti que, acompanhado de Cauê Lemes (piano) e Naná Rizzini (percussão), energizou o ambiente durante todo o momento com sua voz grave, calma e apaixonante.
O espetáculo começa com Me Dei Um Novo Nome, segunda faixa do disco, onde podemos ter um primeiro olhar sobre o trabalho do cantor. Logo percebemos que a viola caipira de dez cordas é não apenas um instrumento característico em todo trabalho do cantor, mas como uma companheira que trás o clima do interior de Minas Gerais, região que Bemti cresceu. Durante o show, Bemti troca de viola diversas vezes, e seu estilo sonoro como um todo é muito orgânico e pode ser definido como um folk, música alternativa com algumas doses de MPB e pop.
Logo no início, o cantor diz que gostaria que o público se sentisse acolhido, como se ele estivesse apresentando o álbum em sua casa, e este clima foi muito bem transmitido com a simpatia do músico, que frequentemente esquecia-se de colocar o cabo na viola e fazia piadas durante do espetáculo, intercaladas de explicações das canções.
O álbum em geral é bem sensível e fala de temas emocionais. Bemti declarou que decidiu fazer um projeto solo fora do Falso Coral após passar por um momento difícil. Ele também conta que há uma década veio para São Paulo estudar audiovisual na USP e sua batalha para encontrar a sua voz, e assim, expressar-se através de sua música. É possível perceber em seu trabalho a desconstrução e auto aceitação e o renascimento.
O cantor declarou que ele também foi um dos responsáveis pelas projeções que passavam no telão ao fundo, que passava imagens que caracterizam a música do cantor, assim como uma ilustração de um bem-te-vi. No meio do show o cantor agradeceu a presença de seus pais que vieram de muito longe para o ver, além de apresentar uma canção experimental em inglês dedicada para sua família, que possui raízes indígenas.
Durante todo o momento o cantor mostrou sua gratidão pela recepção de seu trabalho e o quão importante aquele momento era. A casa de shows vibrava a cada canção e repetia os versos calmos que sua sonoridade nostálgica trás. Além das canções do álbum, Bemti cantou faixas não lançadas como Vira Sol e trouxe Nina Oliveira ao palco para cantar Ponteio (cover de Edu Lobo) e a canção Às Vezes eu Me Esqueço de Você. No ponto ápice da apresentação, Bemti convidou ao palco o cantor Johnny Hooker para apresentar uma versão emocionante, lenta e acústica da canção Volta de Johnny e Tango, parceria dos dois cantores e single que ocupa a quarta faixa do álbum era dois.
Após se retirar do palco, o Bemti e sua banda retornam para apresentar um bis, com uma versão estendida da canção Intro. Agora vestido com uma camisa com desenhos de pássaros, o cantor demonstrou gratidão pela recepção do material e chamou atenção para a situação política atual do país. Ao demonstrar preocupação em relação à cultura no futuro mandato do novo presidente, Bemti declarou que em outubro escreveu uma música em forma de crítica e protesto sobre as questões delicadas que envolvem as eleições, e convidou novamente os convidados especiais para apresentar uma última canção: Coroar Quem Quer Me Ver Morrer.
Desta forma, o espetáculo termina com um momento triste, porém de resistência. O cantor se colocou à disposição para conversas rápidas e tirar fotos com os fãs após o show. Bemti se mostrou um artista completo, simpático e humilde que trás com um material consistente, orgânico e de alta qualidade.
0 Comentários